Estava pensando sobre felicidade,
sobre os vários e diversos motivos que nos fazem felizes, e sobre a diversidade
deles de pessoa para pessoa, cada ser tem seu motivo de felicidade, cada um de
nós se sente feliz por um ou outro motivo e isso não implica que devemos ser
felizes pelos mesmos motivos, não há felicidade homogênea, e para a maioria das
pessoas é complexo compreender isso, muitas vezes é no motivo de felicidade do
outro que mora a tristeza de outro alguém.
Entendo como perversidade querer
que a felicidade de alguém seja a nossa felicidade, é invasor querer interferir
na felicidade de alguém, sei que vou me enfiar em um vespeiro ao citá-los como
exemplo, mas os pais são figuras que não raramente assumem esse papel de
ditadores da “felicidade”, como exemplo cito os não raros os casos de filhos
adolescentes que convivem com tribos diferentes e um tanto exóticas como os “roqueiros”,
esses filhos são felizes enquanto estão rodeados de amigos parecidos com eles,
que compartilham de gostos e motivos semelhantes para serem felizes, mas ao
chegar em casa esses filhos se sentem infelizes pois não tem a felicidade de
ser diferente respeitada pelos seus pais, esse é um exemplo bem simples e que
seria menos censurado nesse texto se comparado a outras escolhas que fazem os
filhos felizes e provocam a infelicidade dos pais. Mesmo usando os pais como
exemplo não são só eles que costumam ditar a felicidade, eu ou você um dia também
poderemos fazer isso (se já não fizemos) e para cometer essa perversidade não precisaremos
ser pais, podemos fazer isso com nossos amigos irmãos e qualquer outra pessoa
que amamos. Chega a ser contraditório dizer amar alguém e interferir na sua felicidade
preferindo a sua tristeza, é mais assim somos nós seres humanos racionais e
incoerentes.
Voltando ao vespeiro, talvez um
pai esteja lendo esse texto e se defenda dizendo: mas eu é que sei o que é
melhor ou pior para a vida do meu filho, bem, isso não é verdade, é uma ilusão criada
a partir da noção de que uma vez na condição de pai que “deu” a vida ao filho
você acredite ser dono dos caminhos escolhidos por seu filho durante a vida, você
pode ensiná-lo a caminhar, mas é o seu filho que se tornou ou está a se
tornando adulto dono de seus próprios passos, que escolhe o caminho por onde andar,
afinal a felicidade é um busca individual e compete a cada ser descobrir onde
mora a sua felicidade, aos pais só resta respeitar a escolha que faz seu filho
feliz. Defendo que essa escolha não pode ser uma escolha doída, pois se dói não
é felicidade, o processo pra alcançar a felicidade pode ser doído, mas a
felicidade em si não, e só um pai sabe e sente a dor de um filho, se a
felicidade de quem você ama fere a ele mesmo aí existe motivo pra interferir, aconselhar
e estender a mão, no entanto se a escolha for apenas diferente do que você idealizou,
mas faz feliz aquela pessoa a quem você ama então não a porque para a tristeza,
pois não há motivo mais generoso de felicidade do que ver quem você ama feliz
também.
PS: Queria falar pura e simplesmente sobre a felicidade,
mas as palavras queriam falar sobre pais e filhos e assim foi feito. Como disse
Rubem Alves: “Quando começo a escrever
deixo de ser dono de mim mesmo. Fico à mercê de ideias que nunca pensei. Elas
aparecem sem que eu as tenha chamado e me dizem: “Escreva!“ Não tenho outra
alternativa. Obedeço.”
Phael Marques